A terceira visita do blog me levou a uma das lojas mais refinadas da cidade: vamos conhecer a Grand Cru de Porto Alegre.
Abro este post com uma confissão: a fachada da Grand Cru, imponente e impecável, sempre me assustou um pouco.
O estabelecimento fica muito bem situado em uma região nobre de Porto Alegre, próximo ao final da rua Quintino Bocaiúva. Tem estacionamento próprio para clientes e ostenta na vitrine uma bela amostra de decanters da marca Riedel – verdadeiras esculturas funcionais de cristal. O Natal ainda está longe, mas vou incluir um desses na lista do meu Papai Noel…
Mas de volta à visita: a apresentação da Grand Cru é diferenciada. O mundo do vinho por vezes se cerca de uma atmosfera de luxo e exclusividade, que a loja reproduz muito bem. Em cada detalhe, desde a escolha dos vinhos até sua disposição, eles sabem “criar o clima” – o próprio nome do local remete à categoria mais elevada da classificação francesa de vinhos: os “grand cru” da borgonha.
Para o consumidor ocasional ou desavisado, todo esse esforço pode passar a sensação errada, de algo que está fora do alcance. Muito pelo contrário, saí de lá me sentindo bem recebido, mesmo que tenha gastado muito tempo (deles) e pouco dinheiro (meu).
Visitei a loja em trajes de verão – bermuda e camiseta – aproveitando um dia quente de folga. Minha roupa destoava do ambiente, mas isso não prejudicou em nada a abordagem da equipe: eles se mostraram solícitos sem ser invasivos, dando espaço para que eu pudesse explorar a loja. Cada cliente tem suas preferências, e a minha é justamente essa: ver os vinhos sem me sentir pressionado, procurar pausadamente algo que desperte minha atenção ou curiosidade.
Eu já tinha dado uma boa volta pela Grand Cru e me sentia mais à vontade quando pedi para falar com o Renato Ramos, sommelier local. Comentei aquela minha impressão inicial e ele ajudou a mudar minha opinião: “A loja trabalha somente com rótulos exclusivos, mas com uma grande variedade de preços. Temos clientes frequentes que vem aqui para comprar vinhos na faixa dos trinta reais”, contou Renato.
A especialidade são os vinhos franceses, mas há também variedade na oferta de outros países do Velho Mundo e, paralelamente, da Argentina. Essa seleção faz sentido quando se conhece a história da Grand Cru. Conforme Renato, a loja é de origem argentina, e foi criada para levar grandes vinhos europeus àquele mercado.
Há mais de 15 anos no Brasil, a Grand Cru apresenta hoje uma estrutura mista de lojas próprias (como a de Porto Alegre) e franquias (que são a maioria no país). Em todas elas, busca um grau de excelência: exige formação mínima dos funcionários – que têm de ser sommeliers ou enólogos – e prioriza vinhos com pontuação em grandes revistas internacionais, como a Wine Advocate (de Robert Parker) e a Wine Spectator.
No quesito “vinhos pontuados” eles não estão nada mal. A loja lista mais de 500 garrafas acima dos 90 pontos – parte expressiva de um catálogo que oscila (conforme a disponibilidade) entre 1.700 e 2.000 rótulos. Não é difícil achar uma dúzia desses vinhos a menos de 60 reais – um preço relativamente acessível para quem procura esse selo de qualidade. Por outro lado, há pérolas de colecionador, como o premiadíssimo Chateau Cheval Blanc, o mundialmente famoso Chateau Margaux e o lendário Vega Sicilia.
Outra particularidade que chama atenção: eles não trabalham necessariamente com todos os rótulos de cada produtor. Para além dos vinhos renomados e premiados, os enólogos da rede avaliam caso a caso se a qualidade do produto está de acordo com a faixa de preço e com o grau de exigência do público. Desse modo, garantem opções para bolsos de diferentes tamanhos.
São 6 anos em Porto Alegre. Nesse tempo, a Grand Cru estabeleceu um grupo fiel de clientes, entre os quais Renato aponta confrarias e empórios gastronômicos. Depois de conhecer a casa e o atendimento, não é difícil entender por quê.
Pontos forte: é um ótimo lugar para garimpar vinhos pontuados, para si próprio ou em busca de um presente diferenciado. Além disso, a loja tem várias opções de garrafas Magnum (essas de 1,5 litros), que fazem bonito num jantar entre amigos.
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